sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O meu Cândido - uma contribuição muito responsável

(...) Expulso do paraíso terrestre, Cândido caminhou durante muito tempo, sem saber por onde, chorando, erguendo os olhos ao céu, voltando-se muitas vezes para o mais belos dos castelos, que encerrava nos seus muros a mais bela das baronesazinhas. Dormiu sem cear no meio dos campos, entre dois regos. A neve tombava em grandes flocos. Cândido acordou, noite cerrada, transido de frio. Esticou os braços quase dormentes e sentiu um calor morno na ponta dos dedos. Mergulhou as mãos, geladas pela neve, numa pasta agradável. Trouxe as mãos à cara, para a aquecer, e só então se apercebeu de que as vacas tinham andado por ali. Esfregou as mãos na neve e sorriu satisfeito, um sorriso tímido, gelado pelas mãos, porque aquele acidente acontecera porque tinha que acontecer. Bem lhe havia dito mestre Pangloss que tudo se passa pelo melhor neste mundo...

A partir de passagem de Cândido de Voltaire

1 comentário:

  1. Cândido é um mostruário de postais onde podemos meter muitos outros à venda, para quem queira continuar a vender e/ou a comprar.
    Como a realidade não existe, o realista também não pode existir. Entre o optimismo e o pessimismo, estamos condenados ao erro, no defeito e no excesso.

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